Depois de Ver... A Aceitação dos Pontos de Vista.
- Marcello Souza
- 18 de mai. de 2016
- 2 min de leitura
“Até aceito, mas se adequar-se à minha realidade”.
Há um desafio implícito em toda relação social no mundo, o meio termo, o equilíbrio, o respeito. Aceitar as diferenças do outro é um desafio imenso para qualquer um, imagine então para um pai ver diferenças de comportamento entre ele e o filho, algo que para a maioria é praticamente inaceitável.
Ser pai, em nossa cultura ocidental está mais ligado ao processo de eternização de si mesmo do que qualquer outra coisa, como o processo natural, ou a perpetuação da raça humana. A perpetuação de si ou mesmo um desejo dúbio de imortalidade, estes sim são motivos mais críveis para o processo de maternidade e paternidade em nosso mundo.
Tentamos criar nossos filhos como extensão de nós mesmos, como cópias carbono no qual identificamos as nossas próprias características, “olha como é a cara do pai”, “o nariz é da mãe com certeza”, “o gênio deste aí vai ser igual ao do pai quando crescer”. Com isso temos uma imposição de regras e paradigmas ao outro e a nossa descendência que pouco deixa espaço para respeitar a individualidade ou mesmo verificar novos pontos de vista.
Há uma escravidão mental à uma ou várias ideias já consolidadas, que nos impele em direção a pensamentos estabelecidos. Mesmo estes nem sempre sendo corretos ou mais adequados ao meio ou mundo em que vivemos. E junto a isso, é comum tentar passar à própria descendência seus preceitos.
Mas não se engane, há uma grande importância em passar à prole suas opiniões e a noção de moralidade, deve haver também uma herança cultural, no desenvolvimento infantil. Mas vale ressaltar que toda a sociedade é responsável pela criação e desenvolvimento da criança, direta ou indiretamente. O que a criança ouve, lê ou assiste, seja em casa, escola ou na rua e até mesmo a opinião dos colegas e amigos, são interferências em sua formação pessoal, ética e moral.
O grande dilema se instaura quando esta influência externa, vai de encontro a ideologia e educação aplicada pelos cuidadores. E essa se agrava quando os mesmos não conseguem lidar com a gestão destes conflitos e tratam essas discrepâncias através da simples rejeição e não pelo debate.
Tratamos o diferente sempre como o mal. Mas como disse Sartre em uma de suas mais famosas obras: o inferno é o outro. O demônio é tudo que difere das minhas certezas e convicções. A pouca tolerância ao que nos é diferente, nos faz desconhecer saberes que muito ajudariam na nossa formação pessoal. A consolidação de certezas nos tolhe o desenvolvimento, de modo a nos cegar para a visão do outro, que muitas vezes está tão perto.
O processo empático é um desenvolvimento pessoal, que cabe apenas a nós mesmos. E aceitar opiniões divergentes das nossas, principalmente dos nossos filhos, faz parte deste processo, ainda que seja algo tão difícil de lidar.
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