Depois de Ver... Que Precisamos Falar de Colorismo
Por vezes falei aqui neste espaço sobre colorismo. Após o questionamento de algumas pessoas, considero necessário aprofundar sobre o tema.
O colorismo, também chamado de pigmentocracia, é um conceito criado em 1980 pela escritora Alice Walke, segundo a tese apresentada a pessoa tem tratamentos diferentes devido a variação da cor de sua pele. Essa é uma derivação do preconceito racial, no qual a pessoa é discriminada apenas por pertencer a determinado grupo étnico. Dá se comumente em comunidades e países de predominância negra, que sofreram maciça colonização europeia.
E não foi diferente no Brasil, que apesar da predominância inicial ser de população indígena, a grande leva de negros trazidos no processo escravocrata, tornou o território brasileiro predominantemente negro. Foi somente entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, enquanto a tese eugenista ganhava fama ao redor do mundo e o sistema escravocrata ia sendo enfraquecido, que se deu a queda da escravidão. Logo após isso, a visão eurocêntrica e eugenista “impedia” aos senhores de terra de sequer remunerar os negros pelos trabalhos que vinham fazendo até então, o que tornou necessário o incentivo à imigração, sobretudo europeia, para as terras tupiniquins.
Com isso, a mistura das tonalidades presentes no Brasil, levou ao que hoje conhecemos por colorismo, que afirma o quanto a tonalidade da pele será decisiva no tratamento que sociedade dá ao indivíduo. Ou seja, quanto mais claro o tom de pele, maiores são os privilégios que terá e menos racismo sofrerá. Em processos é costumeiro não englobar apenas a cor da pele, mas também aspectos fenotípicos como cabelo crespo, nariz largo, e outros aspectos físicos, associados à descendência africana.
Os negros de pele clara, tornam-se figuras em um limbo institucional, no qual são lidos com brancos para serem mais facilmente tolerados em certos ambientes e usufruindo de certos privilégios, e em outros ainda passam por situações onde a discriminação por conta da negritude continua presente. É importante ressaltar que o colorismo não promove a aceitação do negro no ambiente branco, mas sim a de tolerar aqueles negros que possuem traços menos africanizados.
Muito comum nesses casos é a prática do mimetismo (ou camuflagem) social para se ter acesso a espaços dos quais são tradicionalmente excluídos. Através dos alisamentos capilares, o ato de raspar cabelo, ou mesmo os apelidos (“moreno”, “chocolate”) e “criações” de grupos étnicos que sequer existem (como tratar “pardo” como etinia). Atitudes e comportamentos como esses são oriundos da necessidade de “camuflar” a própria presença, de tornar-se menos “perceptível” em espaços culturalmente entendidos como de pessoas brancas.
“Branca era para casar, mulata para fornicar e negra para trabalhar”, este ditado popular, comumente difundido no Brasil desde o período colonial, sem entrar, por hora, no viés feministas e na textualização de certos grupos étnicos, o ditado demonstra bem as características do colorismo, usando como exemplo a afetividade da mulher negra e a escala de privilégios debatida até aqui.
Não há como negar a importância de debater temas como esses diariamente. Essa necessidade surge para que seja descarregado o estigma aplicado aos que buscam o despertar da própria consciência negra. E entender que o racismo é tão estrutural em nossa sociedade, que atos afirmativos como o de empregar um moreninho, pode continuar sendo um ato racista.