Depois de Ver... Sentidos e Formas.
- Marcello Souza
- 3 de dez. de 2018
- 2 min de leitura
Sou um enfático defensor de que, quando uma obra é externada, o domínio da interpretação e seu real significado passa a ser plural e infinito. Suas lógicas são tão infinitas quanto inúmeras pessoas existem no mundo, elevada a todas as vezes em que cada uma tem contato com a obra.
Se vemos na parábola do homem no rio que, “não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio, nem o rio, nem nós somos os mesmos”, de Heráclito de Éfeso). Nesse caso, eu diria: ‘Não se pode ouvir uma música duas vezes, nem nós somos os mesmos, nem a obra o é’.
Tudo, desde o contexto, o tempo, o humor, a recomendação e até a luz (ou ausência dela) podem influenciar no nosso modo de ver (e ouvir) o mundo e a música.
Mas dito isso, ressalto o “vazio” de apenas sentir. Interpretar, o sentimento e a mensagem proposta pelo autor, são tão importantes quanto. Quando não reflito sobre o mundo que passa por mim, tenho sempre a impressão de falta. A sensação de que tanta coisa passa por mim, e fatalmente não voltará. Esse mundo do imediato. No qual tudo passa em um piscar de olhos, em um tweet, uma frase, uma fase, um meme... E o mundo de significado que a música pode trazer, tantas vezes se perde no mar de estímulos que nos bombardeia.
Alguns afirmarão que somos a geração dos 140 caracteres, e agora expandimos para numerosos 280 caracteres. Eu diria que somos a geração de leitores de imagens. Na música, leitores de ritmo de forma superficial e automática, e não mergulhando fundo nos sentimentos e conteúdo. Vale ressaltar, em nada pretendo diminuir a importância da estética, pelo contrário, coloco o meio com igual importância com a mensagem. Mas, o que vejo é: nada que necessite mais do que uma imagem e uma dúzia de palavras, passa em nosso crivo.
Quantos de vocês leu mais de uma página de texto nos últimos meses (textos da acadêmicos não valem) que tenha mais palavras do que um meme no Facebook. Quantas músicas parou para realmente ouvir suas letras e avaliar os sentidos que o conjunto causa em você?
Sou sempre a favor da ‘política do pensar’, no qual o conteúdo seja tão importante quanto a forma. O caminho é mais importante do que a chegada. Ainda estou falando de música, e qualquer semelhança com nossa vida social/política, talvez não seja mera coincidência.
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