Depois de Ver... A Base.
A flexibilização do ensino médio é o sonho de praticamente todo estudante dessa faixa educacional. Estudar apenas as áreas com as quais tem afinidade, ao invés de toda aquela grade plural e diversificada, que vai de humanas a exatas, e que muitos não percebem que é tão importante para a formação pessoal para o desenvolvimento humano e social do indivíduo.
Mas apesar de indicada a flexibilização proposta pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio, aprovada nesta terça (04/12) pelo Conselho Nacional de Educação da Câmera dos Deputados e a ser implantada em 2019, a proposta traz pontos polêmicos, como a falta de parâmetros básicos para facilidade e equidade da educação em todas as escolas, sejam em qualquer lugar do Brasil, a exigência de ter apenas português e matemática como obrigatórias nos 3 anos do ensino médio e a sua relação com o ENEM.
A exclusão da sociedade e até mesmo de estudiosos da área, dos debates e formulação da base, bem como a brevidade e urgência com que o tema foi tratado, talvez para mostrar uma tentativa de reação do governo frente a atual crise política em que nos encontramos. E só evidencia a falta de compromisso e de valorização com o tema.
A urgência com que foi realizado, sem pensar nos diversos efeitos colaterais, demonstra a falta de estrutura para receber a medida. Como a falta de profissionais qualificados, que os forçou a permitir que pessoas sem formação na área possam atuar em disciplinas específicas, ou mesmo o abismo social que pode ser acentuado com escolas oferecendo variedades e combinações dos itinerários propostos.
Vale ressaltar que as medidas de integralização não serão aplicadas em todas as instituições, levando ao aumento da desigualdade já presente na educação brasileira. O documento chega a ser tão abrangente que é possível que não haja nenhuma alteração nos modelos atuais e ainda assim, esteja em acordo com a base.
A dualidade escolar já existente na educação brasileira, pode se acentuar ainda mais, com alunos de escolas particulares tendo seu desempenho escolar levado ao máximo com alguns itinerários montados e alunos de escolas públicas seguindo o atual modelo por falta de opção em suas localidades, faltas geradas sobretudo devido à deficiência nos investimentos, infraestrutura e profissionais especializados. Profissionais esses, quando existentes, muitas vezes sem qualificação, preparação ou remuneração adequada com o nível ou qualidade de trabalho que lhes são exigidos.
O futuro do ENEM é uma incerteza dentro desse parâmetro. Se as escolas serão obrigadas a oferecer apenas matemática e português como componentes obrigatórios, o que será cobrada na prova que visa examinar o ensino médio?
As mudanças educacionais propostas na base, podem até ter sido bem-intencionadas. De modo a tornar o ensino médio mais palatável para as novas gerações. Mas será que as mudanças feitas dialogam bem com a estrutura existente e proposta? Em um país tão desigual? O que vejo é a manutenção do status quo e a lógica do “quem pode mais chora menos” sendo garantida nas gerações futuras.