Depois de Ver... Quem tem Medo do Feminismo Negro.
- Marcello Souza
- 20 de mar. de 2019
- 2 min de leitura

SINOPSE: "Quem tem medo do feminismo negro? reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. No texto de abertura, a filósofa e militante recupera memórias de seus anos de infância e adolescência para discutir o que chama de “silenciamento”, processo de apagamento da personalidade por que passou e que é um dos muitos resultados perniciosos da discriminação. Foi apenas no final da adolescência, ao trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, que Djamila entrou em contato com autoras que a fizeram ter orgulho de suas raízes e não mais querer se manter invisível."
Falar do livro da Djamila Ribeiro é falar de racismo, feminismo, é falar de política, de direito, de história, de filosofia... Mas é, acima de tudo, falar de pessoas. É dar rosto, voz, humanidade a classes sociais tão desumanas. Com uma seleção de alta qualidade de textos publicados principalmente na Carta Capital, entre 2014 e 2017, o livro traz reflexões sobre o posicionamento da mulher negra na sociedade, fazendo recortes latitudinais e longitudinais das relações de poder nos diversos meios.
A introdução quase poética e bibliográfica do livro, faz o mergulho ser ainda mais intenso. Nas memórias de infância de Djamila nos faz sentir cheiros, temperatura, sabores, e cores dessas memórias.
Apesar da ordem cronológica das publicações dos textos não ser respeitada, o livro é bem montado. Por vezes os vários textos se conversam como se tivessem sido escritos para serem lidos juntos. Salvo em algumas ocasiões, nas quais ocorre a quase repetição de uma explicação ou outra, que causa um leve estranhamento e sensação não continuidade. Digo quase repetição, pois ainda que tenhamos releituras de trechos, a autora sempre o aborda de maneira diferente, fazendo questão de trazer mais informação e descrição ao termo que pretende usar.
E aí podemos falar dos temas abordados no livro, e eles são os mais variados, cotas raciais, mulher no contexto brasileiro e mundial, mídias sociais, grandes personalidades, a instabilidade do lugar de poder do homem negro e da mulher branca... Os temas são trazidos de maneira didática e simples, sem deixar de trazer citações, ideias e referências de escritoras do porte de Toni Morrison, Sueli Carneiro, Alice Walker, Conceição Evaristo, entre outras.
‘Quem tem medo do feminismo negro’ é indicado para todos os tipos de leitores, desde os mais politizados aos que tem pouco habito da leitura. É um livro, eu diria, necessário. Necessário por expor realidades que estão fora do campo de visão e reflexão da sociedade comum, e que afeta a tantas e tantos diariamente. Ele nos leva a refletir sobre privilégios, sobre o verniz social e o lugar da negra, do negro e mesmo da mulher branca no Brasil e no mundo. É um livro que nos ensina empatia.